Sentado frente a parede de vidro, numa pequena mesa com
pilhas de papel, está um homem simples que comanda uma das maiores empresas do
País no segmento; o que muita gente não sabe é que dos cofres dele saiu o
dinheiro que transformou o modesto Cuiabá Esporte Clube no representante de
Mato Grosso na Série A do Campeonato Brasileiro. Nascido em Santa Catarina há
65 anos e criado em Curitiba-PR, Manoel Dresch é o maior investidor do Cuiabá.
O empresário chegou em Várzea Grande em 1982, onde montou uma recapadora de
pneus, e anos mais tarde (1989) fundou a Drebor Borrachas.
A família que comanda o Cuiabá também é dona de outra marca
de produtos para recapagem de pneus para caminhões, tratores e colheitadeiras,
a Raytak. É um negócio para máquinas pesadas. Antes do futebol, as marcas eram
praticamente desconhecidas do grande público.
Do escritório da fábrica que produz a ‘banda’ para esses
gigantes, Manoel comanda também outros negócios da família, como a
bovinocultura e uma transportadora. “Tinha um frigorífico, vendi!”, revela o
empreendedor. Do outro lado da BR 364, próximo ao Distrito Industrial, ele
possui uma fazenda que abriga alguns milhares de cabeças de gado para corte;
mas a grande paixão do empresário sempre foi o futebol.
Originalmente torcedor do Operário Várzea-grandense, Manoel
virou ‘cuiabanista’ por acaso. Antes de comprar o primeiro clube empresa de
Mato Grosso do ex-jogador Gaúcho, chegou a patrocinar o Tricolor
Várzea-grandense e até o automobilismo. “O futebol de Mato Grosso crescendo,
será bom para todo mundo”, repete o empresário, insistentemente a mesma frase,
há pelo menos 10 anos; e parece que a hora chegou. “É uma dádiva de Deus ver o
Cuiabá na Série A”, agradece.
A trajetória do Cuiabá até o acesso para a Série A começou
no ano de 2009 quando os Dresch adquiriram o clube dos três sócios fundadores:
Luís Carlos Tóffoli - o ex-jogador Gaúcho, e os irmãos William e Neto
Neponuceno. “Nem lembro quanto pagamos”, despista o empresário Manoel
Dresch.
Entre 2006 e 2008, alegando falta de recursos, o Cuiabá
anunciou o licenciamento de suas atividades, foi quando o negócio foi fechado.
Depois de 13 anos e de pelejas pelas Séries D, C e B, o clube está na elite.
“Infelizmente é difícil conseguir um bom patrocínio do nosso futebol, faltam
empresas, incentivo”, lamentou Dresch.
O empresário lembra como tudo começou: “Um dia eu estava com
os filhos (Alessandro - atual presidente, Cristiano - vice e o Aron (irmão,
presidente da FMF), no Verdão, vendo um jogo do Operário, que eu patrocinava e
surgiu a ideia de comprar o Cuiabá. Ali eu vi que o cuiabano adora o futebol e
eu queria contribuir com aquilo de alguma forma. O que gastamos no clube é
irrelevante se comparado com o prazer de vê-lo na elite do futebol nacional hoje,
para representar Mato Grosso e ter o futebol do estado respeitado pela mídia
nacional. Eu nem imaginava”, opinou.
Por fim, Manoel Dresch destaca que a construção da Arena foi
decisiva para que o clube investisse rumo ao acesso. “Tínhamos um excelente palco,
faltava um futebol forte de novo na elite”.
Como primeiro clube empresa de Mato Grosso o Cuiabá tem uma
gestão profissional em todos os setores do clube, cujo balanço financeiro,
divulgado pela Federação Mato-grossense de Futebol (FMF), em seu site,
demonstra um lucro líquido de R$ 1.725 milhão no ano de 2019. Antes de obter o
acesso para a Série A o clube tinha uma média de R$ 2,5 milhões anuais em
despesas.
Com o acesso, só com a cota da tv, deve faturar cerca de R$
25 milhões este ano; sem contar os valores pagos pelos patrocinadores (Sicredi,
Unimed, Grupo Amazônia). Mas a maior parte dos investimentos, sempre foi da
Drebor, cujos, valores, apesar da insistente pergunta, o empresário prefere não
revelar. “Nem lembro”.
Questionado se o valor investido desde 2009 já foi
ressarcido, Dresch afirma: “Nada, só temos o retorno da imagem da marca que
hoje se identifica com o próprio clube”, sentencia. Na semana passada o clube
não teria concordado com o valor oferecido pela Rede Globo (detentora dos direitos
do Brasileiro). Na verdade, grande parte dos clubes recusaram a proposta de
redução das cotas.
Fonte: Gazeta