Na Cara do Gol MT

Brasileiras são campeãs invictas do 1º Torneio Internacional de Futsal Feminino, em Santa Catarina

 

Em 14 de maio, domingo, Dia das Mães, a Arena Ivo Sguissardi, em Xanxerê, Santa Catarina, estava com a casa cheia de mulheres, crianças, jovens, famílias, casais, amigos – todos ansiosos para a grande final do 1º Torneio Internacional de Futebol Feminino. Brasil versus Paraguai, duas seleções rápidas no ataque, fortes e com alto saldo de gols. Uma grande partida.

A realização do torneio é resultado de convênio entre o Ministério do Esporte, no valor de R$ 1,6 milhão, e parceria a prefeitura. Foram 90 atletas de Bélgica, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, que participaram do evento. A final foi histórica, pois foi a primeira vez que um jogo da seleção feminina de futsal teve transmissão ao vivo em TV aberta.

O município catarinense de 50 mil habitantes foi escolhido por já ter uma intimidade com o futsal feminino. Em 2019, a mesma arena, que foi reconstruída após um tornado em 2014, recebeu o 1º Grand Prix de Futsal Feminino. Chile, Paraguai e Argentina participaram, e o Brasil foi o campeão. Xanxerê já se tornava referência de acolhimento e qualidade de instalações para torneios esportivos internacionais.

Interação

A equipe do MEsp ficou no mesmo hotel que as atletas brasileiras. Ainda que houvesse descontração e conversas no café da manhã no dia da final do torneio, imagino que as jogadoras estavam com aquele frio na barriga. No dia anterior, no hotel, a Seleção Brasileira se dividia entre sentar na recepção e jogar conversa fora para relaxar, ajustar junto à equipe técnica possíveis jogadas ou descansar no quarto. Por acaso, fomos ao saguão principal e conversamos com Luana, que tomava um chimarrão, e Regiane, a Rê, que nos ofereceu bergamotas para experimentarmos.

No elevador, como já tinha entrevistado Cilene e Lívia, pedi para Emilly, a grande estrela do time, uma palavrinha depois do jogo. “Ah, não sei se consigo, quero ir curtir com a galera, mas podemos tentar, sim”, disse ela, confiante na vitória no dia seguinte. Perguntei, então, à Bela se ela poderia falar com a equipe do Ministério do Esporte após o jogo. Infelizmente, ela sairia rápido, pois iria jogar em outra cidade pelo seu time, ainda no domingo. Mas conseguimos falar com ela no fim das contas.

Ainda no elevador, encontrei Lívia. Precisava pedir uma autorização de imagem a ela, porque, na correria após a vitória do Brasil na semifinal, não tinha dado tempo. Ela foi a autora do segundo gol, um golaço, da partida. Muito simpática, ela parou no meu andar do hotel, fechou o tablet com informações táticas, imagino, e assinou o documento.

Ao chegar no domingo à arena Ivo Sguissardi, via-se um telão do lado de fora do estádio, que foi montado para que, quem não conseguisse entrar, pudesse assistir ao jogo. Perceber a presença em massa do público, a arena cheia, é concluir que o futsal feminino só precisa de oportunidade para crescer. E, com a volta de um ministério exclusivo para olhar o esporte brasileiro, temos a certeza de que o benefício será para toda a população, na saúde, na educação, e, consequentemente, na visibilidade do esporte feminino e na inclusão de todos na prática desportiva, sem distinção.

No início do jogo decisivo, é impossível não se arrepiar ao ouvir quase 2 mil pessoas cantando o hino nacional. As paraguaias tentaram atacar no começo, mas só deu Brasil. Taís fez o primeiro gol da partida. Ela, que começou a jogar aos 10 anos, declarou que o torneio é uma chance de valorização do esporte. “O futsal feminino só tem a crescer, e só estamos esperando a oportunidade de mostrar o quão grande somos”, afirmou. 

Destaques pelo mundo

Emilly Marcondes, que hoje joga na Espanha, é uma das maiores promessas do futsal feminino mundial. Ela converteu um pênalti. E também fez o terceiro da seleção, de cabeça, tornando-se assim a artilheira do torneio. “Lutamos muito por reconhecimento, o Brasil merece que a gente ganhe espaço, olha só o espetáculo que todos estão fazendo aqui”, acentuou, emocionada após a vitória.

Natália ou Natalinha, que já foi a terceira melhor do mundo pelo Mundial de clubes, fechou o placar do jogo, 4 a 0 Brasil, concretizando o título para as brasileiras. No lado adversário, muitas já conhecem as gêmeas paraguaias Pao e Lore, que deram trabalho durante o jogo e que jogam no Brasil há seis anos. Atualmente, elas estão no Taboão Matos (SP), e algumas brasileiras jogam lá com elas também. “A gente vê a evolução do futsal tanto no Brasil quanto no exterior”, disse Lore Britez. “Todo mundo sabe que o futsal brasileiro tem muita potência, é muito bom, e isso ajuda no crescimento do futsal para todas”, disse Pao Britez.

E é perceptível a potência das brasileiras. A seleção feminina de futsal é bicampeã sul-americana e hexacampeã da Copa América. O que muitas vezes não conseguimos enxergar é essa dificuldade para praticar o futsal, de que elas tanto falam. Uma das jogadoras mais amadas pelo público de Xanxerê, Bella Souza, vem de Mossoró (RN), filha de pescadores. Da praia de Manibu, ela pescava com os pais para trazer o sustento da família e ao mesmo tempo tinha o sonho de jogar bola. Começou com 11 anos na escola e com 15 foi para Natal, pois ganhou uma bolsa para estudar e praticar o esporte. Ela foi sozinha. Hoje, ela construiu um comércio para os pais e sempre que volta lá, vai pescar.

O caso de Cilene, que já foi eleita a melhor jogadora de futsal do mundo, e é a capitã da seleção, é parecido. Quando criança, não tinha condições de ir para uma escolinha. Com 18 anos, precisou se filiar a uma associação para jogar profissionalmente. E a Emilly, que desde criança jogava bola, mas que sofreu preconceito dos meninos da rua e da família. Entre outras histórias.

Apoio ao futsal feminino foi o lema que mais ouvimos das jogadoras durante a cobertura do torneio inédito. Foram pedidos de visibilidade ao esporte, de reconhecimento. E o MEsp respondeu, ao declarar que nasce uma nova realidade no futsal e no esporte feminino. A exemplo das falas da ministra Ana Moser. “O esporte voltou a ser prioridade no Brasil, e um dos nossos objetivos é promover o desenvolvimento do futebol feminino”, enfatizou. E ainda do secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, José Luís Ferrarezi. “Nós temos uma estratégia nacional para o futebol, futsal e beach soccer feminino. O esporte promove equidade e inclusão, e vamos promover isso para nossas crianças, meninas e atletas”, relatou.

O esporte brasileiro agora tem novamente uma casa no Governo Federal. E o futsal feminino pode contar com ela.

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