Na Cara do Gol MT

Primeiro transgênero do boxe garante vitória profissional


O americano Patrício Manuel, que já competiu como mulher, venceu o mexicano Hugo Aguilar, neste sábado, na Califórnia.


Por anos, ele via no espelho uma certa mulher refletida. Hoje, “Pat” se enxerga como um homem confiante, finalmente confortável na sua própria pele, seu próprio corpo. Depois de quatro anos de uma cirurgia que marcou definitivamente a transição de gênero de Patricia a Patricio Manuel, o primeiro boxeador transgênero conquistou sua primeira vitória já na estreia como homem no boxe profissional.

Em Índio, na California, Pat Manuel, de 33 anos, natural de Santa Monica, venceu, por pontos, depois de quatro rounds, o mexicano Hugo Aguillar, que soma seis derrotas em seis lutas. No segundo assalto, Patricio quase caiu duas vezes depois de receber fortes golpes de Hugo. Mas os três juízes apontaram 39 a 37 para Patricio. Mais do que a vitória no ringue, o superpena americano comemorou uma oportunidade:

- Espero que minha vitória crie um espaço a mais no esporte – disse Patricio.



Patricio tem origem irlandesa, mexicana e negra e nunca conheceu o pai. Quando criança, tanto Pat Manuel quanto a irmã, Megan, que é homossexual, não gostavam de brincar de bonecas. A mãe de Patricio, Loretta Butler, declarou ao Los Angeles Times no ano passado:



- Pat sempre foi homem. Apenas não recebeu a atribuição correta no nascimento.

Tanto a mãe quanto a avó sempre apoiaram Patricio na infância e na carreira. A avó foi quem incentivou a prática do boxe na escola. E ele evoluiu rápido até conseguir treinar com Robert Luna, que preparou três atletas olímpicos. Pat seria a quarta boxeadora olímpica treinada por ele, mas na última luta dele como mulher, contra Tiara Brown, na seletiva olímpica americana de 2012, Pat perdeu, e, se recuperando de uma lesão no ombro, trocou o sonho de representar o país numa Olimpíada por um sonho ainda maior. Na volta para casa, avisou à mãe que agora ela não teria mais uma filha, e sim um filho. “Ok, se isso vai te fazer feliz” foi a resposta de Loretta, mãe de Pat.

- Eu disse a ele que o apoiaria 100% na escolha que ele fizesse. Apenas quero que ele seja feliz. Foi uma transição natural – disse Loretta.



Patricio começou o tratamento com hormônios em setembro de 2013. Em menos de cinco meses, ele ganhou 7kg, barba e viu sua voz mudar. Mais de dois anos depois da última luta como mulher, Pat foi submetido à cirurgia, em Salt Lake City, nos Estados Unidos, para remover os seios e moldar o peitoral. No momento da cirurgia, ele deu a seguinte declaração:



- Eu sou masculino, mas não necessariamente um homem. Quero ser livre dessas amarras. Mas, porque vivemos em um mundo onde se é ou homem ou mulher, tive que me transformar. Queria estar apto para competir com homens.

Quando o dono do clube onde Pat treinava com o técnico Robert Luna descobriu que ele era transgênero, ele foi expulso do clube. E Robert, que preparou Patricia em mais de 70 lutas, se afastou dele e do esporte por um ano depois disso. Apesar de ter recebido respeito e admiração após a intervenção cirúrgica, alguns amigos também se distanciaram e possíveis vagas de emprego não aceitaram mais a mulher que tinha sido entrevistada e que agora era um homem. Mas desde que o Comitê Olímpico Internacional mudou as regras, permitindo a participação de atletas transgêneros nas competições, a Federação Americana de Boxe aprovou sua entrada.

Pat teve que lidar com adversários que se recusaram a competir com um transgênero. Ele assinou contrato apenas para esta luta do fim de semana com a empresa Golden Boy, do americano Oscar De La Hoya, campeão olímpico em 1992. Mas depois da primeira vitória como homem, marcando a história do boxe e se tornando também o primeiro transgênero homem a competir profissionalmente nos Estados Unidos, ele espera ter outras oportunidades e disse que vai voltar.



GE

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