Na Cara do Gol MT

Todo árbitro quer acertar porque vive do acerto, diz 1º de MT a entrar para Fifa

Arbitro profissional há quase 15 anos, Wagner Reway entrou para o quadro da CBF há oito e, desde então, apita jogos da Série A do Campeonato Brasileiro. Em fevereiro deste ano entrou para o ainda mais restrito quadro da Fifa, tornando-se o primeiro de Mato Grosso a conseguir tal feito. Reway tem 36 anos e nasceu em Cascavel-PR, mas sua carreira como juiz de futebol começou aqui na Capital, apitando jogos pela Federação Mato-Grossense de Futebol (FMF) no já distante ano de 2004. Veio para o Estado ainda muito jovem, quando foi morar com a família em Lucas do Rio Verde (a 300 km de Cuiabá). Crescido, aos 21 anos fez um vestibular e foi aprovado para o curso de Educação Física. Por força da decisão, mudou-se para cá. Fã de primeira hora de futebol, a opção pelo curso foi para, nas palavras dele, conhecer melhor as regras do esporte. Durante a graduação, no entanto, foi se sentindo ainda mais atraído pelo que pode ou não pode acontecer dentro dos 105m (comprimento) por 68m (largura, padronizados desde 2016) em um campo oficial. Acabou apaixonado pela adrenalina de controlar os 22 atletas em campo, mais técnicos e suas comissões e, claro, seus auxiliares. Tanto que nem liga com os percalços comuns à profissão, como os adjetivos nem um pouco lisonjeiros dirigidos cotidianamente à mãe e, durante praticamente todos os 90 minutos (sem contar o aquecimento e o pós-jogo), a ele mesmo. Leia abaixo a íntegra da entrevista que ele concedeu ao .
Por que decidiu ser árbitro?
Eu gostava de futebol e aí já fazia faculdade de Educação Física, queria trabalhar na área. Fiz o curso para saber um pouco mais sobre as regras do esporte, não necessariamente para ser árbitro. Mas depois do curso, acabei gostando e continuei. Em parte, foi por isso.
Sua mudança para o Rio de Janeiro teve alguma coisa a ver com a falta de estrutura do futebol local?
Não. Foi só por conta da vida pessoal mesmo. Trabalho, profissional e vida pessoal.
Em algum momento a torcida consegue ofender?
Não, porque apesar de eu não concordar com a maneira de a torcida se manifestar, vejo como algo cultural e não como uma ofensa pessoal. Quando a gente comete erro também, vejo mais como exacerbação de um sentimento, assim como acontece quando a torcida xinga um jogador por ele errar um pênalti, por exemplo. É um rompante ali, daquele momento, e acho que é algo cultural, apesar de não concordar.

Infelizmente o futebol no Brasil não tem maturidade

É possível viver somente com o salário de árbitro de futebol no Brasil?
Financeiramente falando, quando está apitando, e sendo um árbitro da Fifa sim, mas acontece que é muito instável a vida na arbitragem. Se comete um erro grave, você acaba ficando fora, então, pra segurança financeira, não. Ou seja, os valores que se ganha quando está atuando permitem isso (viver só do apito), porém é muito inseguro. Então, na verdade você tem que ter outro lugar onde se apoiar.
Como é quando xingam a mãe do senhor?
Então... a gente nem ouve (risos). Fica concentrado no jogo e não ouve. Concentrado, não se vê nada. Eu, pelo menos, não vejo nada fora do campo, absolutamente nada. A gente só sabe que o estádio está cheio pelo barulho, porque não olha, não consegue ter essa noção, nem ver nada fora do campo. Eu, pelo menos, me coloco dessa forma, controlo a emoção de tal forma que não vejo.
O senhor torce para algum time?
Eu tinha um time do coração antes de me tornar profissional, mas depois que se conecta à racionalidade, faz com que se perca a passionalidade do futebol. E torcedor é paixão, né? Futebol e torcedor é paixão, então, você deixa de ser um apaixonado e fica no racional pelo futebol. É isso que te faz ir deixando de torcer, é um caminho natural.
Falaria se torcesse? Isso poderia ter alguma implicação na capacidade de tomar decisões?
Pra qual time? Não. Infelizmente o futebol no Brasil não tem maturidade pra que a gente fale. Não teria problema nenhum em falar, porque não faz diferença nenhuma pra gente, mas o meio do futebol não tem maturidade para isso, vão sempre achar que a gente tem alguma coisa a favor ou contra este ou aquele time, sendo que a única coisa que faz diferença a favor ou contra nas minhas decisões é o que eu vejo em campo, porque aquilo influencia na minha vida pessoal e profissional. Se eu vou ganhar, ter escala ou não, ganhar dinheiro (porque árbitros só recebem quando apitam) ou não, isso vai independer do time, mas totalmente dos acertos.
Ser torcedor de um time A ou B então não influenciaria nas decisões em campo?
Não, de jeito nenhum. Como já gostei de time, já fui fanático, vamos dizer assim, por um time, obviamente tem uma relação diferente quando você vê esse time jogando, ganhando ou perdendo e tal. Obviamente, não é a mesma relação que se tem com os outros times, mas não é uma torcida, porque, independente de qual time seja, o meu rendimento depende do meu acerto, não adianta acertar ou errar pra A ou B. O que determina se eu vou estar na próxima escala, se vou ganhar dinheiro, são meus acertos, então, nessa hora, posso dizer o seguinte: por mais fanático que um árbitro seja por um time, dentro do campo o jogo é o que importa para ele, porque é a vida dele, não o time que ele torce. Todo árbitro quer acertar.
A violência já te fez passar algum apuro?
Ainda não. Algumas poucas vezes já saí escoltado de campo, mas nunca me senti acuado por causa disso.
Reprodução
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Aos 36 anos, Wagner Reway faz parte dos quadros da CBF. Acima um registro de um dos jogos que arbitrou pela Federação Mato-Grossense de Futebol

Fonte: RD NEWS
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