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Leonardo Oliveira: consultor aponta as razões que colocam o Inter no Z-4

Amir Somoggi diz que política de futebol adotada no clube é "antiquada".

Consultor independente em gestão e marketing esportivo, Amir Somoggi estuda a fundo os movimentos do futebol brasileiro. E se assusta com o atraso de alguns clubes na forma de pensar o futebol. Entre eles, aponta o Inter. Vizinho do Allianz Parque, em São Paulo, Somoggi se impressiona com a onda verde que toma conta da região a cada jogo do Palmeiras. Embora o clube tenha dado um salto depois de passar pela Série B, o consultor avisa: a segunda divisão não faz bem para ninguém. A seguir, leia trechos da conversa por telefone que tivemos na tarde desta sexta-feira.
Qual o impacto de uma queda à Série B em um clube grande?Quando se fala de rebaixamento, o exemplo que ficou marcado é o do Corinthians. Foi o primeiro de verdade que usou a experiência. Bateu no fundo e voltou mais forte. Houve um projeto que começou na queda. Depois veio o Ronaldo e o clube só deu saltos. Na época, o Corinthians fez campanha de marketing forte. Vendeu mais de 1 milhão de camisetas de algodão, a R$ 39, se não me engano, em que se liga: "Não vou te abandonar". Mas isso é coisa do passado. O rebaixamento já teve essa pegada de que faz o clube voltar mais forte. Hoje, se resume à desvalorização de tudo.
Qual o tamanho da perda para um clube desse porte?É preciso analisar o rebaixamento pela perda esportiva. Ela impacta finanças através de bilheteria, redução no valor de patrocínios. Há contratos que preveem bônus em caso de conquistas e descontos na cota em caso de rebaixamento. A cota de TV não muda. O mais grave nisso tudo é que uma queda provoca desconexão com a torcida. O marketing nunca se torna tão essencial como numa hora dessas.

Consulto independente, Amir Somoggi é referência no futebol brasileiro em gestão e marketing esportivoFoto: Divulgação / Divulgação
No caso de uma queda do Inter, você acredita que haverá uma baixa no quadro social?
Nada está perdido em clube de futebol. Mas olha o caso do colorado: se colocasse para escolher entre ser tri da América ou campeão brasileiro, eles escolheria a segunda opção. Imagina se o ano fecha com o clube entregando para ele o rebaixamento? Isso é o pior que pode acontecer na vida de um colorado. Ainda mais que o clube está no seleto grupo dos cinco que nunca caíram, com Santos, Flamengo, São Paulo e Cruzeiro. E isso deve causar, sim, reflexo no quadro social.
Qual seria o tamanho desse estrago?O Inter tem hoje mais de 100 mil sócios. Creio que desses 50 mil seguirão firmes. O clube precisa trabalhar para manter-se com, pelo menos, 80 mil. A receita não pode baixar mais do que 20%. O Coritiba, antes de cair, em seu auge, tinha 45 mil sócios. Na Série B, ficou com 15 mil. Isso é terrível para as finanças. O clube rebaixado tem queda de faturamento. Se previa R$ 300 milhões e tem queda de 15%, seriam R$ 45 milhões a menos. No melhor dos casos, esse clube tem perda de R$ 25 milhões.
Você acompanha o Inter, como faz com outros grandes da Série A. O que levou o clube a essa situação?Numa conjuntura em que todos querem globalizar a marca, jogar Libertadores, não pode ser rebaixado. É o contrassenso, é muito triste. Sei que o Inter sofre problema de gestão. O modelo adotado em sua base está equivocado. O clube tem uma ótima captação, mas ela se exaure no modelo financeiro. Os jogadores são vendidos e uma pequena parte fica no clube, que se descapitaliza. A maioria comete esse erro, mas o Inter é o exemplo da vez. O clube está evoluído em algumas áreas administrativas, mas atrasado na forma de pensar o futebol.
A negociação de jogadores, um dos trunfos do clube, também fica afetada?Em tese, os jogadores podem perder valor. Mas haverá uma debandada no grupo. Haverá necessidade de enxugar a folha e também o desejo do jogador de não atuar na Série B. Ele acaba saindo por menos do que estava previsto pelo clube. Ou seja, esse cenário é a má-gestão em seu extremo.
O que faz um clube grande entrar nessa espiral?Sou apaixonado por futebol, estudo um pouco, mas o que vemos no Brasil está longe do que vemos em Portugal, Alemanha, Bélgica e Inglaterra. Aqui, os gastos são mal feitos. No caso do Inter, há um modelo antigo de gestão. Essa de queimar ídolos é prova da forma arcaica de pensar o futebol. Contratar técnico para ser para-raios da imprensa é ridículo. É questão orçamentária, de altos custos e baixa performance. Como o Inter não consegue ganhar um Brasileirão com um dos maiores orçamentos do Brasil? Está claro que a questão do time é psicológica. Os dirigentes, em seu modelo antiquado de administrar, tentaram de tudo e não deu certo. Como não estudaram, e agora não sabem o que fazer. Há uma falta de visão mínima. Eles (dirigentes) querem dominar tudo e não querem perder nada.
Fonte: ZH ESPORTES

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