Você já viu algum treinador dar entrevista coletiva no intervalo de uma partida? Foi o que aconteceu nesta segunda-feira, no Mineirão. No campo, o jogo entre Cruzeiro e Atlético-PR, pelo Brasileirão, ainda estava na metade. Na sala de imprensa, Tite, técnico da seleção brasileira, que foi ao Mineirão para acompanhar o jogo - algo que tem feito com certa frequência -, conversava com os jornalistas. Ele foi questionado sobre várias situações, entre elas a possível convocação do goleiro Fábio, do Cruzeiro, de 35 anos. A resposta foi simples, indicando que idade não é limitação para a convocação de ninguém, citando, como exemplo, o volante Otávio, do time paranaense.
- Não vou avaliar quem é melhor, vou avaliar o momento melhor de cada um. Pode ser o momento melhor de um atleta que não tenha um status maior, mas que o seu momento é importante, tanto no aspecto técnico quanto no aspecto físico. Então, no acompanhamento direto é fundamental. Meu papel é um pouco de técnico, mas muito mais de selecionador. Todos os jogadores, independentemente da idade (serão observados). Por exemplo: o Otávio, surgindo no Atlético-PR, ou o Fábio e Henrique (do Cruzeiro), que já têm qualidade comprovadas. Todos vão estar sob minha tutela, vou estar observando. Não só minha, como de toda minha equipe de observação.
Confira, na íntegra, a entrevista coletiva de Tite:
Importância da presença em partida de possíveis convocados
É uma ideia que eu trago, e não estou fazendo mais nada do que minha responsabilidade profissional. Ela é de um acompanhamento dos atletas, não só por vídeo mas in loco também. Procuro, na medida do possível, estar presente. A atmosfera é diferente, o jogo também é diferente no clima e na emoção.
Momento decisivo na convocação
Não vou avaliar quem é melhor, vou avaliar o momento melhor de cada um. Pode ser o momento melhor de um atleta que não tenha um status maior, mas que o seu momento é importante, tanto no aspecto técnico quanto no aspecto físico. Então, o acompanhamento direto é fundamental. Meu papel é um pouco de técnico, mas muito mais de selecionador.
O que a Copa América e a Eurocopa trouxeram de ensinamento tático
Em termos táticos, a final da Copa América teve duas equipes no 4-1-4-1, três jogadores centrais, dois de beirada e um de infiltração central, o Vargas na equipe do chile, e o Messi fazendo o quarteto de meio-campo, armação e articulação pela equipe da Argentina. Na final da Euro, duas linhas de quatro com dois atacantes, a França se caracterizou assim. 4-1-4-1 na equipe de Portugal, fazendo também uma marcação pressão um pouco mais baixa. Não mudam muito os sistemas, fundamental é a mobilidade e a qualidade que os sistemas têm.
O que Portugal deixou de legado com o título da Eurocopa
É difícil pegar e falar qual é a mensagem e ter uma verdade definitiva em relação a uma equipe campeã. O que a gente pode comentar é a consistência da equipe de Portugal, seu sistema, tanto que ela foi campeã sem seu principal astro. O coletivo potencializa o individual e nunca o inverso. A qualidade da equipe como um todo e sua organização potencializam a individualidade para que ela possa aparecer.
Pretensões futuras para a Seleção
Tenho externado a todos que o nosso papel a partir de agora até o final das Eliminatórias é classificar para o Mundial. Sei das minhas limitações, do meu crescimento como profissional, mas ele tem um foco e um objetivo só, que é a classificação (para a Copa 2018). Nós estamos em busca dela. A partir daí, o crescimento, envolvimento e o desenvolvimento da equipe podem transcorrer nesse segundo projeto, nessa segunda missão, nesse segundo momento.
O Fernando Prass foi convocado para a seleção olímpica. Fábio tem chances?
Foi o Micale quem convocou, e eu não tive absolutamente nenhuma interferência na convocação. Falar uma situação de não estar presente à frente da seleção olímpica, e depois ficar dando pitaco, não faz parte de mim. É dele (Rogério Micale) a convocação. Todos os jogadores, independentemente da idade (têm chances). Por exemplo: o Otávio, surgindo no Atlético-PR, ou o Fábio e Henrique, que já têm qualidade comprovada. Todos vão estar sob minha tutela, vou estar observando. Não só minha como de toda minha equipe de observação.
Carlos Alberto Silva, ex-treinador da Seleção, acompanhou a visita de Tite ao Mineirão. Por que?
Eu pedi ao professor Carlos Alberto Silva que tivesse a oportunidade de vir aqui hoje e me dar um abraço. Mais do que técnico de futebol, ele teve uma influência muito grande na minha conduta enquanto ser humano, enquanto pessoa, enquanto caráter. A mensagem é igualdade a todos independente do status da equipe. O senhor Carlos Alberto trouxe isso para mim. Trouxe como uma forma de gratidão. E o segundo aspecto: ele tem a experiência, o know-how. Eu estou me reciclando, me reformatando na função de técnico da seleção. Não tenho essa experiência, tenho de clube. Mas ele tem. Eu vim aqui para pegar alguns ensinamentos dele.
Lesão de Douglas Costa e corte da Seleção
O Douglas inicialmente estava convocado e depois não sei exatamente o tempo que ele vai ter de retorno para ter a condição total. Uma coisa posso afirmar: um atleta para ser convocado tem que estar na sua plenitude técnica e física. São três dias apenas com nível de exigência altíssimo. Vai ter que preencher esses requisitos. Não dá para recuperar atleta numa competição.
Portugal foi campeão da Eurocopa vencendo apenas dois jogos na competição. A prioridade da Seleção tem que ser defensiva?
É algo a se pensar. Não tenho uma resposta pronta. É para todos nós refletirmos. Por exemplo: A França passou pela Alemanha sem propor o jogo, sendo mais reativa. Duas linhas de quatro, pressão média e baixa, dois homens na frente e puxava contra-ataque. Teve muito menos posse de bola. Não quer dizer que uma escola seja melhor que a outra. O que eu acredito é que a escola brasileira tem na posse de bola uma arma muito forte, mas saber jogar com uma pressão alta, média e baixa também é importante.
Qual é a sensação de ser aplaudido nos estádios que visita?
Eu não sei responder, mas esse sentimento eu tive, de carinho. Isso me deixa muito feliz. A responsabilidade é muito grande, tenho a consciência disso. Mas à medida que esse carinho possa transpor para os atletas também, fica mais fácil o nosso trabalho, porque a responsabilidade é muito grande.
O jogador brasileiro precisa recuperar o amor pela camisa da Seleção e o patriotismo?
Qual é o maior orgulho nosso? Eu tenho 55 anos, mas eu vou voltar para a idade que eu teria 21, 22, 27, são as idades dos atletas da seleção. O orgulho de representar o país e a seleção é maior que tudo. São atletas realizados, a grande maioria deles, e realizados financeiramente. Não é por esse aspecto que vão jogar na seleção. Eles vêm por prazer, por alegria, por essa empatia. Eles também têm essa situação. Talvez um pouco de confiança (que falte), talvez um bom momento, talvez não queiram resgatar passado, nem bom nem ruim. Não temos que resgatar (o passado). Temos que jogar bem, ganhar e classificar para o Mundial. É isso que a gente precisa.
Fonte: GE