Na primeira entrevista como técnico da Seleção no Rio, técnico é questionado várias vezes sobre relação com Marco Polo del Nero e não promete braçadeira a Neymar
Em sua primeira entrevista como
técnico da seleção brasileira, Tite teve de lidar com a emoção e com
questionamentos sobre sua posição em relação aos dirigentes da CBF. Há alguns
meses, ele chegou a assinar uma petição pública que pedia a renúncia imediata
do presidente Marco Polo del Nero, que nesta segunda-feira subiu ao púlpito
para anunciar a sua contratação. Ao falar sobre a mãe, Dona Ivone, não escondeu
a emoção. Disse ter contado a ela nesta segunda que a negociação estava
encerrada e que seu filho era o treinador da seleção brasileira, ouviu a
bênção, e pediu carinho da mídia e torcedores com a senhora, que receberá uma
camisa entregue por Del Nero a Tite antes da entrevista.
- A maneira que tenho de
contribuir é mantendo a mesma opinião, mas mantendo a minha autonomia para
buscar o melhor para a seleção - disse Tite.
Tite CBF Del nero (Foto: EFE)
Del Nero presenteia Tite com uma
camisa da Seleção com o nome da mãe do técnico, Ivone Bacchi (Foto: EFE)
O sucessor de Dunga na seleção
também respondeu sobre Neymar, que vem se envolvendo em turbulências fora dos
gramados, como os termos pouco educados com os quais se dirigiu aos críticos em
redes sociais. Indagado se ele continuaria como capitão, Tite disse que Neymar
quer o melhor para a seleção, mas deu a entender que um rodízio na braçadeira é
uma ideia que o agrada. Afinal, no seu conceito, há várias formas de liderança
e todos têm peso na performance da equipe.
SAIBA MAIS:
+ Tite vai aos Estados Unidos ver
a Colômbia na Copa América
+ Agora é oficial: Tite é
apresentado pela CBF após visitar museu
Confira os melhores trechos da
entrevista de Tite:
Pedido de renúncia de Del Nero
A minha atividade, o convite que me foi feito, foi para ser
técnico da seleção de futebol. Entendo que essa atribuição é a melhor maneira
que tenho para contribuir. Adjetivos como transparência, democratização,
excelência e modernidade, são a forma como penso. Todo o meu legado pode falar,
foi a forma como sempre conduzi.
Aproveitar trabalho de Dunga
É precipitado, mas dá para trazer
como ideia. Aproveita-se sim, claro que dentro de critérios, do que se entende
ser o melhor, mas claro que se aproveita. Sou um técnico em formação, um
tijolinho a cada dia. Aprendemos com nossos erros, não tenho problema em
reconhecer e melhorar. E aprendemos também com acertos dos outros. Cabe a nós
reconhecer e buscar esses acertos.
O que mudou para aceitar a CBF
Quando houve o convite para a
conversa e não acertamos, houve dois aspectos fundamentais: autonomia de
direcionar na busca de excelência, transparência, do melhor para o futebol. É
isso que eu sei fazer. É o campo, a análise técnica, e a maneira que tenho de
contribuir é mantendo a mesma opinião, mas mantendo a minha autonomia para
buscar o melhor para a seleção. De novo os adjetivos de democratização,
transparência, modernização, eles permanecem como conceito em todas as áreas,
seja na minha, na política, ou na sociedade em geral. É o que penso não do
futebol, da vida.
Por que só agora?
O ideal não acontece, as
circunstâncias vão acontecendo. A vida tem um timing, a oportunidade veio
agora. Entendi que deveria aceitar para fazer parte da minha carreira, uma
certa vaidade, de estar técnico da seleção brasileira. Talvez o meu melhor
momento na vida profissional. Perdendo muito para que pudesse chegar aqui.
Momento ideal não tem, mais coragem para assumir em um momento tão importante.
Tite CBF Del nero (Foto: EFE)
Tite recebe o abraço de Del Nero
na CBF: segundo o técnico, Coronel Nunes é quem viajará com a Seleção (Foto:
EFE)
Convites anteriores
As situações anteriores não foram
sentadas na mesa, não foram postas olho no olho.
Eliminação do Brasil na Copa
América
Eu estava de cabeça inchada
remoendo a derrota para o Palmeiras. Não estava assistindo o jogo. Estava
focado no Corinthians, triste, chateado, fico no quarto, no meu canto, pensando
o que poderia fazer de mellhor, é o meu jeito.
Seleção olímpica
Era muito fácil o técnico agendar,
alinhavar uma situação, e muito fácil trazer os louros, se ganha, muitos
louros, senão já tem a desculpa pronta de assumir em cima da hora. Isso eu não
faço. Vamos fazer um trabalho no que buscamos como primeiro objetivo, que é
classificar para a Copa do Mundo. Então dar ao Rogério Micale e aos outros
profissionais que já estão há um ano e meio trabalhando... Ah mas não tem o
mesmo peso. Eu também não tinha. Todos têm uma trajetória profissional.
Respeito o Rogério e a possibilidade maior de sucesso é com ele.
Convite a Edu Gaspar
Não deu cinco minutos de conversa,
vim para ouvir, e o presidente colocou que o executivo do futebol que ele
pensava era o Edu Gaspar. Foi dele a iniciativa. Eu vim para ouvir, qual era a
ideia, o modelo, o que a CBF pensava. Sintonia, respeito a diferenças, conduta,
futebol, e foi colocado que o Edu seria a pessoa. Não fui eu que falei, o
presidente que colocou.
Risco nas Eliminatórias
O foco é a classificação para o
Mundial e nós não estamos em uma zona de classificação. Corre-se o risco, claro
que corre. Se não aceitar isso, está fugindo da realidade. É um fato real. Há
risco. Equipes se montam, se formam, se consolidam e crescem.
Chance de Del Nero viajar com a
Seleção
Sobre a viagem, conversamos. O
coronel (Antonio Carlos Nunes, vice-presidente) é a pessoa que viaja.
Relação com Neymar
Sobre o Neymar, temos de
interagir, não posso prever, vai ser assim, assado. O lado humano potencializa
o profissional. Cheguei aqui com a perna tremendo. O que posso garantir é que o
Neymar quer o melhor para a seleção, cabe a nós encontrar e potencializar esse
melhor caminho.
Ideia tática para Seleção
É de triangulações, troca de
passes, transições, ou seja, perde a bola e toma a iniciativa de retomar.
Pressão alta, média e baixa, tem de saber jogar dessas três formas. Organização
consistente na bola parada. Tenho de me reinventar, não sei qual adjetivo usar,
me modelar, é um ambiente diferente de clube, uma forma diferente. Quero um dia
para conversar com os técnicos brasileiros e ouvir sobre jogadores com
possibilidade de convocar, suas características, como é o dia a dia do
trabalho. Preciso saber onde o atleta pode se adaptar.
Responsabilidade
Assumi uma responsabilidade, que
sei como ela é grande. Estava saindo no aeroporto e um cara disse: "Agora
são 200 e tantos milhões". Olhei pra trás e... (risos)
Carreira e hábitos
Eu fico feliz pela construção da
minha carreira. O lado da vaidade e ostentação já passou por mim, eu tive.
Agora, com 55 anos, tenhos hábitos simples, gosto de ficar com a minha esposa
quando não estou ligado a futebol. Eu não sou simplório, humilde, mas tenhos
hábitos simples, gosto do trabalho full-time, reunião, o trabalho me fascina.
Talvez esse desafio seja o que me mova mais.
Geração atual
Grandes atletas, jogadores de
qualidade técnica e individual e, o mais importante, com potencial de
crescimento.
Dona Ivone
A minha mãe, você imagina, a
realização de ter o filho na seleção. Só peço para as pessoas terem carinho e
cuidado, porque senão pode ter coisas que a emoção pode aflorar. Hoje disse que
concluímos a negociação, disse que o filho dela é técnico da seleção, ela
começou a chorar e me deu bênção.
Rodízio na função de capitão
A gente pode divergir de ideias, é
da vida. Todos têm uma responsabilidade em cima da performance. Essa é a grande
marca de uma equipe de futebol. E essa mudança de capitão te traz isso, porque
existem diversos pefis de liderança: a técnica, a comportamental, a de externar
ao público certas questões, aquele que é exemplar na parte disciplinar. Quero
fomentar essa relação. Ganhou um, ganham todos, a alegria de um é de todos.
Phil Jackson fala isso no livro dele. Ontem na final da NBA um toco do Lebron
James determina a jogada da cesta do Irving. A marcação de um com a qualidade
de outro. Senso de equipe. Seja no clube, ou em seleção.
Princípios
Respeito as posições contrárias. É
a melhor maneira que tenho para dar uma contribuição. Primeiro um objetivo
pessoal meu, julguem da forma que quiserem. Mas é a forma que sei de dar uma
contribuição. Os meus princípios continuam, na minha atividade. Mas não me cabe
julgar outras áreas. Quer essa forma? A área de futebol, sim. Posições
contrárias, é do jogo, é da vida.
Objetivos
Não é o que penso ser o melhor,
que imagino ser o melhor, é saber onde eles podem render melhor, potencializar
isso, com o lado humano, de senso de equipe, e de colocar onde o atleta possa
render mais, com um sistema no qual possa render mais. Não tem de ter a cara do
Tite, mas a cara do Brasil, dos atletas que estão dentro do campo, da qualidade
técnica e da competitividade. Tem muito transição, muita rapidez com a base da
seleção. É ajustar, potencializar, essa é a minha função.
Atletas excluídos
Não tenho essa situação definida.
Começo a pensar. Tenho como ideia. Situações passadas, borracha apagada. A
relação passa a ser comigo com cada atleta que eu entender ser importante.
Negociação
Foi um turbilhão, sou um ser
humano, tenho os mesmo sentimentos que todos vocês têm. Eu não planejei. Eu
faço o meu melhor a cada dia, estabeleço metas a curto e médio prazo, o futebol
é assim. É a tua hora, vai cara. Daqui a dois, três anos vai ser outro
profissional. Esse turbilhão de emoção, virei na cama seis, sete vezes, minha
esposa perguntou o que estava havendo. Outros profissionais tiveram também. Se
não tiveram, eu tive.
Tite Museu da CBF (Foto: Lucas
Figueiredo / MoWA Press)
Antes da coletiva, Tite visita o
museu de CBF: lembranças das grandes seleções
Fonte:GE
Tags
Nacional