A final do skate park masculino, que ocorreu na madrugada
desta quinta-feira, dia 5, gerou mais uma onda de críticas à arbitragem
na Olimpíada de Tóquio 2020. Nas redes sociais, a
nota do brasileiro Luizinho
Francisco foi o principal motivo de reclamação. Pela avaliação dos
jurados, ele não subiu ao pódio, ficando na quarta colocação.
Ele precisava tirar mais de 84,13 na última volta para entrar
ficar entre os três primeiros, mas ficou apenas com 83,14. Faltou um
ponto. "Minha última volta foi igual a que fiz nas eliminatórias, mas
ainda incluí e acertei uma nova manobra, um 540°. Só que a pontuação foi menor
do que a nota que havia tirado nas eliminatórias, que tinha sido 84,31",
lamentou o brasileiro. "Não entendi", continuou. O bronze ficou com o
americano Cory Juneau.
Não é de agora que a atuação dos árbitros nos Jogos
Olímpicos de Tóquio 2020 tem gerado revolta nas redes sociais por parte dos
torcedores brasileiros. O clima de torcida a favor do Brasil tem movimentado
internautas e atletas em críticas, fundamentadas ou não, da avaliação e
resultados em diversas modalidades.
BRASILEIROS X JAPONESES NO SKATE
As críticas, ainda pequenas e por parte da torcida,
começaram na final do skate street masculino, quando Kelvin Hoefler ficou com a medalha de prata
perdendo para o japonês Yuto Horigome por diferença de 1 ponto. Na ocasião, os
fãs reclamaram que o brasileiro deveria ter ficado com o ouro e que o atleta da
casa teria sido favorecido, mas especialistas não divergiram das decisões dos
árbitros.
No dia seguinte, na decisão feminina, a mesma situação
ocorreu com a medalha de prata para a brasileira Rayssa
Leal, com uma atleta do Japão levando a medalha de ouro na categoria.
Também houve reclamações sobre as notas de Letícia
Bufoni que não conseguiu chegar à final.
NOTAS DE MEDINA NO SURFE
Até então as reclamações estavam em tom de torcida, mais
amenas, mas as finais do surfe masculino levaram as críticas a outro patamar. A
derrota para o japonês Kanoa Igarashi na semifinal trouxe condenações pesadas
após o japonês ganhar de Gabriel
Medina na última manobra com um aéreo que muitos consideraram que
valia menos que o aéreo de Medina. Algumas avaliações de especialistas disseram
que pelo japonês ter segurado na prancha faria com que a manobra fosse menos
difícil do que a do brasileiro.
Gabriel Medina perdeu e na disputa pelo bronze com o
australiano Owen Wright, mais uma nota baixa para ele irritou internautas e
alguns comentaristas de surfe. O aéreo do brasileiro no final da bateria ganhou
6,00, insuficiente para vencer a bateria, já que precisava de um 6,21.
Até a mulher de Medina, Yasmin Brunet, se
manifestou sobre o resultado nas redes sociais. "Estamos do seu
lado e não vamos fingir que não vimos o que aconteceu. Foi roubado na cara
dura", escreveu Yasmin.
"Só gostaria muito que alguém se posicionasse e te defendesse",
completou.
Medina também se manifestou, porém com menos veemência.
"Infelizmente não deu. Vou voltar para casa e descansar. É difícil passar
o ano treinando e se esforçando e acontece isso. Minha parte eu fiz. Tem coisa
que não dá para entender, mas tinha de ser assim", disse. "É difícil
esperar dos outros."
KENO MARLEY NO BOXE
Outra disputa que provocou reação da torcida foi a luta
entre o brasileiro Keno Marley e o britânico Benjamin
Whittaker, onde o pugilista brasileiro perdeu por 3 a 2 em decisão dividida dos
árbitros. Porém, o próprio lutador, muito carismático, aceitou bem o
resutado da luta. "Não posso analisar a decisão dos jurados. Acho que foi
justo. Cometi alguns erros, mas estou feliz.", disse ao sair da luta
válida pelas quartas de final. Se avançasse, Keno Marley já asseguraria pelo
menos uma medalha de bronze.
MARIA PORTELA E A DERROTA NO JUDÔ
No entanto, o auge da indignação ocorreu no judô com
a derrota da brasileira Maria Portela para a
judoca Madina Taimazova, do Comitê Olímpico Russo (ROC). Portela foi
eliminada depois de mais de 15 minutos de luta por punição de falta de
combatitividade, e comentaristas e outros judocas reclamaram muito de um golpe da
brasileira que deveria ser considerado wazari e dado a vitória à atleta.
O ex-judoca Tiago
Camilo, medalhista olímpico em Sydney-2000 e Pequim-2008, entendeu que
a gaúcha foi duplamente prejudicada pela arbitragem. "A brasileira
claramente prejudicada nessa luta. Tanto nesse golpe não pontuado quanto na
decisão do golden score. Nessa última punição que ela tomou", afirmou.
Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas-2004,
endossou a opinião do colega e detonou o VAR. "Não darem o wazari pra
Portela.. pra que serve o VAR? Francamente. Lamentável", escreveu o
ex-judoca e comentarista da TV Globo nas redes sociais.
Apesar das críticas mais fortes do lado externo, a própria judoca
brasileira aceitou o resultado da luta depois da primeira emoção com o
resultado. "O árbitro, se a gente não define, ele tem que definir. E quem
tiver um pouco mais de iniciativa, vai levar. Não foi culpa dele. Eu tinha de
ter sido mais agressiva, imposto mais o ritmo, por mais que não fosse efetiva,
que foi o que ela fez e acabou levando", disse.
Após a primeira semana de muita choradeira nas redes sociais, o
Estadão foi atrás de entender mais das regras e notas dos esportes que estavam
levando os brasileiros ‘à loucura’ nas redes. O que se tem certeza é
que a Olimpíada deixa as emoções à flor da pele e regras e notas que levam
interpretação sempre terão divergências, ainda mais se tratando de tempos em
que as redes sociais amplificam discussões seja pela pessoa leiga ou
especialista no esporte.
Fonte: Estadão