Crise dentro e fora das quatro linhas. O Iranduba-AM perdeu
19 dos últimos 20 jogos e não vence uma partida há mais de dois anos. Que o
momento é ruim não tem como negar, mas o que poucos sabem é que a fase pode ser
justificada pela estrutura oferecida. O globo esporte Amazonas ouviu denúncias
de atletas que defenderam o time nas edições de 2020 e 2021 do Amazonense, foram
10 derrotas no período.
- Cinco
técnicos, 64 gols sofridos e 19 derrotas em 20 jogos: Iranduba completa
dois anos sem vitórias
Eles preferiram não se identificar com receio de que as
acusações possam prejudicar suas índoles como profissional, mas detonaram as
condições de treino, alojamento e até alimentação. Para facilitar o
entendimento, vamos usar os nomes fictícios Pedro e Ricardo. Pedro conta que às
vezes os atletas caminhavam três quilômetros - ida e volta - para poderem
treinar. Ele também detonou a alimentação.
Desde quando cheguei no Iranduba as condições não
podem nem ser comparadas com estrutura de time pequeno, e sim com estrutura de
time amador. Até o material de treino era o próprio jogador que lavava, por
três ou quatro meses nunca tivemos um local fixo para treinar, treinávamos num
campo reduzido completamente sem estrutura. Andávamos 3 km para treinar nesse
campo, e um dia um jogador torceu o tornozelo e voltou andando - detonou.
- O campo era reduzido, com lama e buracos, umas três vezes
o time foi para outra cidade treinar nesse campo. E quando não era nesse campo,
treinávamos em uma quadra, em tempo de chuva e com a quadra molhada,
treinávamos até no quintal do alojamento, que se parecia com um galinheiro. Até
em ladeiras já teve treinos. Sei que não podemos reclamar da comida, porque
muitos passam fome, mas em semana de jogo todos os dias a alimentação era
salsicha e calabresa - acrescentou.
Além do local de treino, Pedro ainda fala do local onde os jogadores
se hospedaram em Iranduba, na Região Metropolitana do Amazonas. Segundo ele, a
pousada era sem segurança e de fácil acesso por qualquer um. Ainda de acordo
com Pedro, algumas pessoas iam ao local para usar drogas.
O local onde estávamos alojados é uma pousada, fica o tempo
todo aberta, entram várias pessoas, usam drogas, um local completamente fora de
todos os padrões. É a pior pousada de Iranduba, as pessoas usam de motel".
— Pedro, ex-jogador do Iranduba
Ricardo também procurou o ge Amazonas. Ele confirmou a
denúncia feita por Pedro e ainda revelou que os jogadores do Iranduba tiveram
as chuteiras roubadas. Segundo ele, o local também não tem água e eles usavam o
estádio mais próximo do hotel para tomar banho em vez treinar.
Thiago Rafael assumiu o Verdão nos últimos três jogos do
estadual — Foto: João Normando /FAF
- Estamos em uma pousada, que é um motel sem nenhuma
segurança! Tem dias que não tem nem água para banhar. Usamos o estádio
somente para banhar. Já roubaram chuteiras, tênis. Os caras do Iranduba nem
ligaram - contou.
De acordo com Ricardo, a diretoria do clube conseguiu uma
van para transportar os jogadores para os treinos somente nos últimos dias de
competição. Ele disse que, antes do veículo, todos caminhavam, e a comissão um
dia se recusou a levar um jogador lesionado por ele estar sujo.
"Uma vez aconteceu um episódio que até hoje me dói, um
jogador torceu o tornozelo no treino, e o preparador físico não quis trazer ele
no carro porque ele tava sujo. Daí ele veio andando"
— Ricardo, ex-jogador do Iranduba
No dia 3 de abril de 2019, o Hulk da Amazônia venceu pela última vez uma partida oficial, 1 a 0 contra o Princesa do Solimões. De lá para cá, foram 19 derrotas, sendo duas delas goleadas acachapantes, como um 10 a 2 sofrido diante do Clíper e um 7 a 0 contra o Nacional, ambos no Amazonense deste ano. No total, são 20 jogos sem vitórias, sendo apenas um empate.
Presidente revela não ter conhecimento
A reportagem procurou o presidente do clube, Amarildo Dutra,
para comentar sobre as acusações dos atletas. Dutra disse que não tinha
conhecimento e revelou ter "terceirizado" o departamento de futebol
para a empresa K&J Soccer Agents após contrair a Covid-19. Ele admitiu
ainda que não entrava no clube desde o final de 2020.
Vale dizer que o Iranduba poderia ter pedido licença do
futebol masculino sem ser punido com o rebaixamento. A Federação Amazonense de
Futebol deu anistia para qualquer desistente devido a pandemia da Covid-19.
- Eu não posso falar neste momento sobre as denúncias, as pessoas
mais indicadas são as que estavam responsáveis pelo clube na época. O rapaz aí
tenho certeza absoluta que tem declarações que não batem. Onde se viu um atleta
caminhar três quilômetros para treinar todo dia? Era para estar voando, né!? - Falou.
- E com relação a alimentação, você pode ter certeza, ele
tem nota fiscal de tudo. A minha versão com relação ao que atleta escreveu, eu
não posso falar nada. Afinal não vou ao Iranduba desde o ano passado por causa
da doença (contraiu a Covid-19). O atleta vai questionar minha resposta,
dizendo que não conhece o presidente. Prefiro não entrar nessa disputa, porque
não participei diretamente - concluiu.
Amarildo Dutra, à direita, é presidente e fundador do
Iranduba-AM — Foto: Mauro Neto/Sejel
Por meio de uma nota oficial, a K&J disse que não tinha
mais qualquer vínculo com o Iranduba desde o dia 4 de abril. A empresa também
afirmou que a desvinculação foi causada por motivos internos e insustentáveis.
- Prezados, viemos por meio desta, informar a todos que
desde 04/04/2021 a empresa K&J SOCCER AGENTS e a empresa LAS TOUR VIAGENS E
TURISMO, que por motivos internos e insustentáveis, não tem mais NENHUM vínculo
com o Esporte Clube Iranduba da Amazônia. Nosso acordo de patrocínio Financeiro
foi feito de forma informal, apenas verbal! Fica aqui nosso agradecimento ao
presidente Amarildo Dutra e Boa Sorte nas próximas temporadas - concluiu.
Fonte: GE